quarta-feira, 15 de abril de 2015

Afinal, o que eu posso comer?

Vivemos em uma época de constante “nutricionismo”, ou seja, nutrição + terrorismo, ou simplesmente terrorismo nutricional. As pessoas já não sabem o que comer, afinal, glúten “não pode”, leite contém lactose e toxinas e, por isso, também “não pode”, peixe contém mercúrio (metal pesado), doces “nem pensar”, frituras “jamais”, industrializados são “proibidos”, tem que “cortar” o açúcar, mas adoçante também “não pode”... Pensando nisso, o post de hoje é mais para uma reflexão sobre como muitos andam levando a vida no quesito alimentação.

Cada vez mais questionamentos sobre alimentação!
Foto: Connect Modern Media
Podemos pensar que a área da saúde não é uma ciência exata, isto é, muda dia após dia, devido a inúmeros estudos que são feitos pelo mundo, testando alimentos e seus efeitos, compostos bioativos, suplementos, fármacos... Então, o que hoje parece ser algo “revolucionário” pode não ser em breve, ou algo que, segundo os estudos, não traria efeitos benéficos, pode ser o novo “queridinho" da vez.

Ovo: De vilão a mocinho

O caso clássico disso que falei acima é o ovo, que, há alguns anos, era considerado um vilão na alimentação e seu consumo devia ser limitado por causa do colesterol. Hoje já se sabe que não é bem assim: ele realmente possui colesterol, contudo, seu consumo já não é “proibido”, sendo necessário analisar cada caso, já que é um alimento nutritivo e os níveis de colesterol não dependem de apenas um alimento ou um fator. Você é um ser único e deve ser avaliado como tal! ;)

Glúten: comer ou não comer? Eis a questão!

Com o glúten, por exemplo, a mesma coisa: há diversos estudos relatando efeitos maléficos de seu consumo. No entanto, será que, de fato, todos precisam abolir esse item para toda a vida? Ou será necessário avaliar sinais, sintomas e uma possível sensibilidade ao glúten (termo relatado em inúmeros estudos)?

Lembrando que o glúten é uma proteína presente em alimentos como trigo, centeio, cevada, malte e aveia (na verdade, é isenta, porém, com a contaminação cruzada, acaba tendo resquícios) e quase tudo que é feito com esses itens são industrializados (biscoitos, pães, bolinhos, lasanhas congeladas....). A alimentação do brasileiro é rica em todos esses itens. Será que é só o glúten? Não contam os conservantes, o excesso de sal, açúcar, gorduras saturadas e trans? Como oriento a diminuição desses produtos, com algumas exceções (pães de qualidade, aveia...), priorizando a “comida de verdade”, a alimentação acaba tendo um teor menor dessa proteína, portanto, não há excesso, bem como não há exclusão total! Algo a se pensar!


A ciência da saúde sempre muda!
Obs.: Recebi a foto no celular, se ela for sua, comunique!

Recentemente, tive uma aula na pós-graduação com um professor fantástico chamado Murilo Pereira, e, em um momento da aula, falávamos exatamente sobre isso, o “nada pode”. Aí, ele falou uma frase ótima, que anotei em meu caderno (meus cadernos têm altas anotações! hehe): “a ignorância é não saber”. Ou seja, é melhor comer com consciência, sabendo que determinado alimento não é a melhor coisa do mundo, do que comer associando a algo saudável, que é o que acontece constantemente com produtos industrializados pelo forte apelo comercial (descrições e/ou embalagens chamativas). Por isso, tem que interpretar o rótulo e fazer suas escolhas (saiba neste post!).

Há um vídeo produzido pelo canal Porta dos Fundos que mostra mais ou menos como é a ciência da saúde. É claro que é um pouco exagerado, mas de forma divertida, dá para notar que as informações se renovam e que temos que estar atentos a isso. Se você não viu, aproveita e vê abaixo:


Em dezembro, na pós-graduação novamente, tive aula com outro professor fantástico, o Fernando Catanho. Ele disse algo muito interessante também: “USEM a ciência, não COPIEM a ciência”. O que isso que dizer? Para mim, quer dizer que apesar de diariamente termos informações novas, não é para copiar absolutamente tudo que sai nos artigos! Temos que analisar a fonte desse artigo, métodos, amostra (humanos ou animais)... Não quero dizer que os artigos estão errados, mas que a partir de uma informação que recebemos, talvez não seja necessário imediatamente copiar o que diz no mesmo e, sim, ficar de olho em novas evidências que reforcem a mesma ideia publicada, até que virem, de fato, recomendações!

Que rebeldia é essa, jovem? Vamos conversar!
Foto: Wallpapers Craft (editada)

Meus pacientes/clientes sabem que prezo muito pelo equilíbrio e, por vezes, cada um vê esse equilíbrio de uma forma diferente. Eu vejo na prática que a maioria quer mais saúde, disposição e continuar tendo uma vida normal, bacana, saindo com os amigos e família. Será que é preciso ser mega radical e abolir tudo se a pessoa não é atleta ou não tem intenção de viver em uma bolha? Se a pessoa não tem nenhuma alergia, intolerância ou outra condição que a impeça de ingerir algo a resposta é não, não e não! :S

Eu até passo uma lista de alimentos (ou produtos alimentícios) que a pessoa deve evitar e sempre friso que esse “evitar” não significa que nunca mais vai comer. Porém, para reeducar a alimentação, conhecer novos alimentos e sabores, é importante tentar não ingerir com freqüência, pelo menos durante os primeiros meses de acompanhamento nutricional. Ainda, sempre deixo claro que essa lista também vai de acordo com o objetivo da pessoa: se quer mudar gradualmente, ter saúde, sem muitos objetivos estéticos, o plano alimentar pode ser mais flexível. Fala sério: alguém vai morrer porque comeu em UM DIA um pedaço de bolo? Ou uma pizza? Ou foi a um churrasco? O que importa aqui é a atitude do indivíduo diante da comida: se consegue comer sem compulsão ou se há descontrole, que pode até envolver transtornos alimentares (e isso é coisa bem séria!). Obviamente, também não dá para fazer da exceção uma regra e achar que esse "um dia" é para ser "todos os dias".

Há quem prefira reservar um momento para comer alguma coisa “fora do plano”, enquanto tem quem adore as receitinhas que passo, que são gostosas e nutritivas. Assim como há essa galerinha, também atendo gente que o objetivo já é mais estético (sempre com saúde!) e aí a alimentação pode ser um pouco mais restrita. Uns até preferem assim e não saem do plano nunca! Viu como não dá para generalizar? O atendimento deve ser personalizado! Sempre reforço esses pontos, uma vez que quando posto certas informações, parece que alguns se ofendem!

Falo por mim mesma agora: me alimento muito bem, quase não consumo industrializados (o que não quer dizer que eu “nunca” coma), não consigo ainda comprar tudo orgânico... Mas faço escolhas que considero interessantes para meus hábitos e estilo de vida, melhorando sempre que possível. Às vezes como uma sobremesa ou uma pizza. É toda semana? Não! Você fica se privando, então? Também não! Porque gosto e me sinto bem assim! E se você acha que por eu ser nutricionista, isso “tá errado”, volte ao topo da página e leia novamente todo o post! ;)

E o resto?

Fora a alimentação, há também uma série de coisas que influenciam a saúde e bem-estar: ar poluído, substâncias tóxicas no plástico, nos produtos cosméticos (esmaltes, shampoos, cremes...), de limpeza, entre outros. Se formos parar para pensar, teríamos todos que viver em uma fazenda, cultivando os próprios alimentos para não terem agrotóxicos, e abolindo todo e qualquer produto, já que “tudo faz mal”.

Você consegue viver (ou sobreviver) sem tudo isso? Impossível, né? Temos uma vida urbana, portanto, acabamos tendo contato com tais coisas. Ainda assim, acredito que podemos ter um equilíbrio geral, fazendo escolhas conscientes, para ter uma rotina feliz e saudável.

Resumo de tudo: Não estou dizendo que é para comer todo dia um doce porque “é só um pedacinho”, bem como não estou incentivando que ninguém coma mais nada. Se você tem acompanhamento nutricional, converse com seu nutri para saber o que é melhor para você! Se não tem, tenha consciência, encontre também o seu equilíbrio e seja feliz! Mau humor não é saudável! ;)

2 comentários:

  1. O "nutricionismo" existe, estamos passando por uma fase crítica, onde nunca se falou tanto em Nutrição, mas também nunca estivemos tão acima do peso e tão "fitness". É uma fase onde somos "8" ou somos "80", onde está o meio termo?! O texto tenta esclarecer justamente isso e de uma forma simples e bem humorada (parabéns, Tássia), que o "meio termo" SIM, pode ser o "ideal", ideal para uma população que não tem um objetivo específico, como por exemplo, ser atleta, trabalhar com o corpo ou pelo corpo. E nesse turbilhão de informações novas chegando a todo segundo, a população em geral se sente desnorteada, pois as revistas, os programas, enfim, mostram informações que não servem pra todos. Por isso, que a recomendação é: procure um nutricionista, único profissional regulamentado para auxiliar nestes esclarecimentos, além disso, é importante que as pessoas saibam que se o objetivo é, por exemplo, ser um esportista --> procure um nutricionista com tal especialização! Assim como na medicina há especializações, na nutrição não é diferente, então procure um nutricionista dentro do seu objetivo, não são todos iguais, minha gente! Estamos aqui para auxiliar, esclarecer, informar... Tenho esperança que um dia a informação nutricional de qualidade, ou seja, aquela que pode ser direcionada a população de uma forma geral, vire notícia nacional, que os modismos ou informações que só servem pra um público específico não seja repassada de forma desordeira e vendida como algo generalizado. A luta continua, por um mundo onde a individualidade nutricional seja respeitada!

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